Rafael Fraga - músico e empreendedor cultural
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Epitáfio à poesia

9/14/2011

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Está esquecida, a poesia
confinada a livros pequeninos.
Os palcos gigantes
são agora dos doutores mesquinhos
das unhas polidas
e fato-gravata sedosos
pagos à miséria do tédio.

Já não chegam rimas,
doces imagens de ternura:
dedos, Orfeu,
chorando na lira meiga
a tresmalhada Euridice,
esvaídos os cantos
de musas esmagadas
nas pedras secas do rio.

A poesia tem de vir para a rua
gritar o suor dos mortos,
marchar lágrimas de fome
nas bocas sujas do senhores
de colarinho engomado
rasgado à dureza escarlate do fio
escorrido em tinto recorte
- o tíbio aço, frio, das espadas.

Tem de despir-se dos enfadonhos
circuitos do misógeno,
ambulante e covarde pensador
embalsamado de ideias e de sonhos.
Fugir das tertúlias sensaboronas,
reino de pálidas, virginais
sobre-rodadas declamantes
amázias cinquentonas,
disfarçadas de rapaz.


A poesia há-de morrer
travando a guerra
em parelhas ou filas,
cruzadas, duetos,
ao jugo das mãos queimadas
e corpos dilectos já sem ritmo.
Hecatombe de cidades esquecidas
travestidas de sonetos.

À retaguarda,
vontades renascidas,
novas heroínas destemidas
de batalhas
trespassadas pela paz.

Orgulhosa,
cumprirá o seu destino
pupilas dilatadas
um horizonte branco
e a visão
do nascer o homem novo
sem trato, bandeira ou salva.
Silêncio. Redenção:
celebrando o seu hino.
Poesia - aqui jaz!
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